Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



'

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Hipocondria

     Ainda tenho medo do nosso chão em alto e baixo relevo. Às vezes, existe muito mais verdade nas coisas em que não acreditamos. Uma vida inteiramente planejada: filosofias, planos de saúde e mapas astrais. Tudo acabará num sopro e, mesmo sabendo, nunca chegaremos ao ponto de acreditar. Eu e você escapamos todos esses anos, por generosas frestas que nos trouxeram ao presente. Somos apenas sobreviventes. O nosso filme roda repleto de chiados, mas ainda estamos ao menos no tempo de ação. Talvez o nosso leve toque de hipocondria seja o alimento indispensável para seguir.

     É aí que você me canta uma música. E continuará cantando até que ela faça seu estômago embrulhar. Inevitavelmente estarei com você. Poderíamos demolir um ao outro, ou afogarmos a mente no fútil. Mas os pesarosos, esses apenas resistem. Fadados a enxergar tudo, sem exclamações, apenas resistem. E, por enxergarmos, fatalmente viveremos

     uma vida com olhos marejados.

Mariane Cardoso
Olhos Marianejados

2 comentários:

  1. Quando li "Olhos Marianejados" sorri espontaneamente. Ah Mari, continuo acompanhando seus textos e me surpreendendo a cada palavrinha sua. Sinto uma saudade enorme de ti.

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Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.