Ainda tenho medo do nosso chão em alto e baixo relevo. Às vezes, existe muito mais verdade nas coisas em que não acreditamos. Uma vida inteiramente planejada: filosofias, planos de saúde e mapas astrais. Tudo acabará num sopro e, mesmo sabendo, nunca chegaremos ao ponto de acreditar. Eu e você escapamos todos esses anos, por generosas frestas que nos trouxeram ao presente. Somos apenas sobreviventes. O nosso filme roda repleto de chiados, mas ainda estamos ao menos no tempo de ação. Talvez o nosso leve toque de hipocondria seja o alimento indispensável para seguir.
É aí que você me canta uma música. E continuará cantando até que ela faça seu estômago embrulhar. Inevitavelmente estarei com você. Poderíamos demolir um ao outro, ou afogarmos a mente no fútil. Mas os pesarosos, esses apenas resistem. Fadados a enxergar tudo, sem exclamações, apenas resistem. E, por enxergarmos, fatalmente viveremos
uma vida com olhos marejados.
Mariane Cardoso
Olhos Marianejados
Olhos Marianejados
Olhos Marianejedos, muito bom.
ResponderExcluirQuando li "Olhos Marianejados" sorri espontaneamente. Ah Mari, continuo acompanhando seus textos e me surpreendendo a cada palavrinha sua. Sinto uma saudade enorme de ti.
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