Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



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terça-feira, 30 de abril de 2013

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Queridos, voltei a postar no zaluzejos (tumblr). O blog, talvez, tenha saturado de mim. Por isso, quem quiser continuar me acompanhando, é só clicar no link abaixo.

ZALUZEJOS

terça-feira, 26 de março de 2013

Argumento


No primeiro dia em que inalei vida,
Uma aura tentadora e ferina cruzou o meu peito.
Disse: Escreva, escreva... Escreva sobre qualquer coisa e dê certo.
Depois disso, um raio pousou pulsante sobre a minha mão
E eu nunca mais fui capaz de respirar
Como se respira da primeira vez.

Mariane Cardoso

quarta-feira, 20 de março de 2013

Daquele Texto Incompleto

     Eu me tornei um mito, G. Um mito, no sentido sujo e cortante da palavra.
     Nestes dias, quando o pombo negro transita da outra janela até a minha, só mesmo os meus bondosos ancestrais acreditariam em mim. E eu me pergunto como pude deixar passar tantas coisas. Tantos presságios de algo importante que estaria por vir... Sempre tão esperta, como você me diria. E ao mesmo tempo tão ingênua. Porra, Mariane, onde você escondeu suas canetas? Tudo como você me diria.
     Eu, G., tal qual o mito, vivo suspensa entre os observadores. Sou uma verdade não generalizada, uma fraqueza antes da afirmação.
     Mas venha, tomemos um pouco do tempo, sem cautelas, por favor, sem mais pudores.
     Os mitos são belos, encantadoras obras de arte, mas ninguém confiaria sua vida a eles. Essa é a minha ferida, G.
     Minha dor é que nunca poderei ser eu a sua religião.

Mariane Cardoso
   

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

sabendo
que assim dizendo
— poema —
estava te matando
mesmo assim
te disse

sabendo
que assim fazendo
você estava durando
foi duro
mesmo assim

te trouxe
mesmo assim
te fiz
mesmo sabendo que ias
fugaz
ser infeliz
sempre infeliz

mesmo assim
te quis
mesmo sabendo
que ia te querer
ficar querendo
e pedir bis

Paulo Leminski, em "Caprichos & Relaxos"

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"(...)
Queria eu poder ser a larva em cólera, tua representante astuta
Pois tua flechada é leve em asas, o riso é praga, a praga é doce
E as almas nunca deixaram de ser chumbo.
Quanto a vocês, oh, vastos irmãos do meu sertão,
Suas rachaduras estenderam-se além do solo
E vieram parar nos sonhos.
São impérios carregados pelo Velho Chico
E todos os exércitos entre anjos e cangaceiros
Rumaram para fora de suas curvas.
Mas os orixás mas axés mas a praça amigueira e São Salvador
Conservam serena e gentilmente suas vivas alegrias"

Mariane Cardoso em "Por Outra Revolução"

O Muro

     Embora eu saiba que até no asfalto, não posso ver nascer apenas uma flor.
     Enquanto é lua, por exemplo, converso com estrelas, sei dos astros, Urano de mãos dadas com Plutão. Mas quando é dia, como em hipnose, me é indiferente a beleza da segunda face.
     Como uma menina, uma mera criança, tenho que aprender de olhos bem arregalados a atravessar novamente e me manter de pé pelo mesmo caminho que trilho sempre. Vou, pois, direto e bamboleante caminhando através dele. Esses simbolismos, eu digo, esses simbolismos, todo o ocultismo, tudo é balela. Tudo foge do que posso mudar, me ultrapassa e não me serve. Mas sem querer, de repente, tropeço nos contrários.
     Nos contrastes. De repente me é belo o que também não convém. De repente me é belo o que está do outro lado da cerca. E sigo assim por entre céus. Por entre fundamentações, verdades con-sagradas, verdades pré-fundas.
     Variavelmente, estou recomeçando como o astro rei. E não é que eu esteja em cima do muro, caros amigos. Não, apenas sinto que o muro é frágil e doente, que o muro é baixo e miserável, e que vocês só não estão em cima porque nem mesmo poderiam. Vejam bem, cada opaco tijolo é um dos seus corpos. Mas eu, pelo menos disso, fui dispensada, pois sei do muro flagelado e da destreza dos condores, que sublimam e conduzem uma outra vida,
uma infinita restauração.

Mariane Cardoso

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Como se a arma, de tão eficiente, já atirasse vermelho

(...) Eu sofro de mim, de mins.

Camuflo o que é simples. Eu queria ser novo ou velho o suficiente para ser um só, com espaço de sobra onde não só filosofia/teologia/poesia tivessem passe livre. Aquele velho papo de se encontrar e saber dizer, dar a palavra, colocar a mão no fogo. Aquela velha luz à meia-noite de uma semana antipática. Eu queria me sustentar sem nada. Ter coragem de não esperar futuro, sem objetivos, sem destino pela frente, sem estradas ou cidades ou pontes por onde ainda possivelmente irei passar. Desprovido dos mapas e das letras de canções da geração anterior. Sem ilusões, sem riscos, sem vítimas ou propósitos. Sem conhecer as histórias, sem gente para servir de inspiração, sem passado. SÓ EU. Sozinho. Para inventar vida de onde nunca saiu sequer um sopro de ar.

Mariane Cardoso em "Confissões de um Espírito Revirado"
Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

Quem sou eu

Minha foto
18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.