Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



'

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Muro

     Embora eu saiba que até no asfalto, não posso ver nascer apenas uma flor.
     Enquanto é lua, por exemplo, converso com estrelas, sei dos astros, Urano de mãos dadas com Plutão. Mas quando é dia, como em hipnose, me é indiferente a beleza da segunda face.
     Como uma menina, uma mera criança, tenho que aprender de olhos bem arregalados a atravessar novamente e me manter de pé pelo mesmo caminho que trilho sempre. Vou, pois, direto e bamboleante caminhando através dele. Esses simbolismos, eu digo, esses simbolismos, todo o ocultismo, tudo é balela. Tudo foge do que posso mudar, me ultrapassa e não me serve. Mas sem querer, de repente, tropeço nos contrários.
     Nos contrastes. De repente me é belo o que também não convém. De repente me é belo o que está do outro lado da cerca. E sigo assim por entre céus. Por entre fundamentações, verdades con-sagradas, verdades pré-fundas.
     Variavelmente, estou recomeçando como o astro rei. E não é que eu esteja em cima do muro, caros amigos. Não, apenas sinto que o muro é frágil e doente, que o muro é baixo e miserável, e que vocês só não estão em cima porque nem mesmo poderiam. Vejam bem, cada opaco tijolo é um dos seus corpos. Mas eu, pelo menos disso, fui dispensada, pois sei do muro flagelado e da destreza dos condores, que sublimam e conduzem uma outra vida,
uma infinita restauração.

Mariane Cardoso

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Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.