Embora eu saiba que até no asfalto, não posso ver nascer apenas uma flor.
Enquanto é lua, por exemplo, converso com estrelas,
sei dos astros, Urano de mãos dadas com Plutão.
Mas quando é dia, como em hipnose,
me é indiferente a beleza da segunda face.
Como uma menina, uma mera criança,
tenho que aprender de olhos bem arregalados a atravessar novamente
e me manter de pé pelo mesmo caminho que trilho sempre.
Vou, pois, direto e bamboleante caminhando através dele.
Esses simbolismos, eu digo, esses simbolismos,
todo o ocultismo, tudo é balela. Tudo foge do que posso mudar,
me ultrapassa e não me serve.
Mas sem querer, de repente, tropeço nos contrários.
Nos contrastes.
De repente me é belo o que também não convém.
De repente me é belo o que está do outro lado da cerca.
E sigo assim por entre céus.
Por entre fundamentações, verdades con-sagradas, verdades pré-fundas.
Variavelmente, estou recomeçando como o astro rei.
E não é que eu esteja em cima do muro, caros amigos.
Não, apenas sinto que o muro é frágil e doente, que o muro é baixo e miserável, e que vocês só não estão em cima porque nem mesmo poderiam.
Vejam bem, cada opaco tijolo é um dos seus corpos.
Mas eu, pelo menos disso, fui dispensada, pois sei do muro flagelado e da destreza dos condores, que sublimam e conduzem uma outra vida,
uma infinita restauração.
Mariane Cardoso
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