Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



'

terça-feira, 8 de maio de 2012

Há algo de errado no inverno de 1994

     Portas demais. Eu atravessei uma das.

     Tão mísero o gesto de se apresentar. Há algo de errado no inverno de 1994 porque ele não se cala. Vive até hoje no subentendido dos beijos que a água imprimiu nas paredes daquele ano. Talvez paixão e tristeza demais. Hecatombes que se cruzam para a obrigação de fazer nascer. E foi esse o preço que eu cobrei. O preço que eu pago na base da garganta seca, da noite perdida, do pulso sempre desgastado tempos depois.  O tempo foi o meu melhor amor perdido. Cedo, já é tarde demais.

     Não posso dizer que permaneço. Sinto que dói e a dor é o anúncio de que se mantém vivo. Portas ainda cerradas com barulho de outro horizonte. Um prólogo, talvez nenhum capítulos após. Não, não fui feliz, mas voz eu tive. Ou, pelo menos, tive a pretensão.

Mariane Cardoso

3 comentários:

Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.