e se questionar com
cabeça no travesseiro
choro na garganta
não leva a crescer
a conseguir, num soluço,
desaparecer.
Estou no lugar do criminoso
vai saber...
Do criminoso que é inocente
do criminoso que não se acredita
não se julga no encaixe
não se põe no lugar
que de tanto falarem que é criminoso
passou a agir como um.
Eu pego a minha culpa
- mas culpa de quê, meu Deus?
Culpa de quê? -
e remoo por inteiro
espalhando cada parte
que não cabe a mim.
Ando cabisbaixa
sem encarar os olhos
ou porque tenho medo de polícia
ou porque não suporto essa gente
mas penso mesmo
que é falta de briga
que minha valentia talvez
pusesse um fim no perigo.
Eu me acolho debaixo do frio
“Pois bem, não me toque,
não me sorria,
não me deseje boa noite
nem ache que tudo é como antes
que podemos ser cúmplices
que posso estar a seu favor”
O nada é o vestígio da minha resposta.
O que há comigo?
Como se mandasse correr e as pernas não o fizessem
como se dançasse no entorno da fogueira e não chovesse
ouço e silencio enquanto me acusam lá fora
seguram pedras
antes de contar até três.
E não corro
não brigo
não aparece chuva para esconder meu medo
fico assim encarando minha mentira
feito uma velha conhecida
fecho bem meus lábios
faço questão de ser neutra
sabendo que ninguém mais sairá em minha defesa.
Creio ainda que não foi por amor
nem por segurança pessoal - o meu crime.
Parece-me de longe
base de vaidade e orgulho
e de sentimentalismo bobo
que poem conhaque em qualquer prato de sopa.
É parede ao longe
a incontrolável vontade de ser verdade.
Barram-me na entrada
e minha provável sede de ser inteira
me espreme contra tijolos
enquanto finjo que sou forte
e que carregar culpas improváveis
"tá pra mim, baby".
Não mergulho em mais ninguém
pois no dia em que mergulhei
vi centenas feito eu
parados na fila de espera
sem rifle e sem juízo
de boca bem vedada
incuravelmente machucados
e culpados em todos os aspetos e fases do mundo
feito eu.
Eu
que sou criminosa
querendo ser
eu.
(Mariane Cardoso)
(Mariane Cardoso)
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