Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



'

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Gigante


Como uma pluma, um dente-de-leão, uma partícula de gás, você é leve, meu amor. Meu menino, minha irracionalidade, minha construção nos ares. Você me fala com voz mansa que tem muito chumbo aí dentro, que tem balas de pistolas e cabos de facas encrustados em seu coração, que tem mãos e pés enrolados, que já cortaram suas asas há tempos e - embora triste - é tudo interno. Mas você voa sem asas, amor. Você aprendeu qualquer coisa sobre levitar, flutuar etc, e só sei que você fica suspenso e me suspende junto. Me arranca um sorriso, anjo sem asas, me tira da seriedade trazida pela vida. Me inventa em outros mundo, outras esferas, outras realidades irreais, coberta da poeira da praia, com o cabelo trançado, dourada, toda sua, toda sua. Me faz sereia, princesa, humana perfeita. O tempo é muito curto para nós dois; o chão é raso; a água, tutti-frutti. Passarinho, você nunca vai passar, não. Mesmo longe, mesmo em outro continente, sua lembrança é incontinenti. Mesmo noutro mar, noutro chão, o colchão, o lar estarão para sempre guardados. Sem réu, só céu.
(Mariane Cardoso)

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Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.