Bela Garota

     Veja como são as coisas. A última constelação anda decidindo o seu destino todos os dias. E a única conclusão é de que ele se inverte em detrimento das noites. O amor te puxa pela mão como nunca antes. Fica difícil apagar a luz e desfrutar do seu tão querido sentimentalismo. Difícil abrir suas gaiolas e deixar, à frente do chuvisco, os pássaros preciosos. Sobretudo, os que teimam em ficar, que são bem mais cortantes. Mas, veja. Veja como os controles fogem e a lua nem é tão bonita. A luz poderia ser tratada apenas como uma opção dentre muitas. Você passou a gostar em demasia das estrelas. Tão menores e comestíveis. Tão esquecíveis. Morrem num sopro e ninguém percebe durante anos. No entanto, grudam em você como elemento excessivo de uma primavera.

  Quero seus ombros. Não firmes, nem frouxos. Apenas assumidamente ombros, carregando os pedregulhos que nascem nas flores. Numa coragem desgastante de tão bela. Como você. Ainda mais bela quando triste. O que há de se fazer agora é apenas assumir seus ombros meio-a-meio.

     Veja como são as coisas. O amor tem marcado para nunca mais sarar. Ao menos fica o orvalho quando amanhece, como se as estrelas fossem mesmo sentir a sua falta. Apenas ouça esse sussurro dentro d’alma e recolha os presentes que o acaso deixa em sua porta. Esse encanto perolado de ser também um pouco assombração. Não é todo dia que constelações encandeiam o seu céu. Não é todo dia, bela garota.

Mariane Cardoso