Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



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sábado, 18 de fevereiro de 2012

...

     A menina que nasceu com amigos imaginários e vultos caminhando na parede é uma história sobre você. Até quando ela encontrava pingueiras em cima da cama ou tomava banho de luz apagada. Porque é sobre seu mundo que corta os espaços e que pode atravessar como uma lágrima, como um grito, como um arrepio invasivo, todos os limites secretos.

     Hoje levaram menos de dois minutos para me contar algo sobre um anjo sem boca e eu chorei. Ou de medo, ou de susto. Tudo por conta das histórias que penetram e jamais, não se engane, jamais serão as mesmas. Elas entram por portais diferentes e são todas nossas, mas cada uma é mais de um milhão, virando você. Nenhum outro vai saber das imagens da sua cabeça, do motivo de rir do passado, das cicatrizes que você imprimiu no joelho quando criança, da lembrança de cair enquanto as paredes se movem e o chão te suga e fica preto, o choque é maior que a dor. Você se lembra. Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e o porquê de você sorrir com a mesma palavra que faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,  transposição e transbordamento, além da risca de giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.

     Vai morrer com as histórias que cada um é incapaz de contar sem faltar com a verdade. Mas, não se engane, porque todas são de verdade. E são sobre você, sendo um transatlântico intransparente com um coração que bate, desbravando por dentro. Avessando o mundo de mãos na areia para vomitar os motivos que ficarão eternamente atravessados na sua garganta. Eternamente lacrimejados nos olhos, sem cair. Vivos. E nunca na vida.

Mariane Cardoso

6 comentários:

  1. Esse texto me causou uma dorzinha tão boa, Mari. Lindo, como tudo aqui.

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  2. oi :)

    Gostei muito do texto, e pelo que me parece, é seu, mas li primeiro em outro blog.. Não sei se você sabe, mas só pra dizer que está sem os devidos créditos http://odiamenteacordanoite.blogspot.com/2012/02/blog-post_23.html

    Abraços!

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    1. Fabi, obrigda por ter me mostrado isso.
      Não só esse texto que você mandou, mas também um moooonte no blog dela é meu e está sem nome. Nossa, fiquei de cabeça quente aqui. Que coisa triste. Até o "quem sou eu" dessa menina é praticamente idêntico ao meu.
      Bom, fico contente por você ter me mostrado isso e ter reconhecido que o texto é meu. Se souber de algum outro plágio, é só falar aqui. E, mais uma vez, obrigada.

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    2. Fico feliz em ajudar. Odiaria que fizessem isso comigo :)

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  3. Ninguém nunca vai conhecer a verdadeira essência que o outro guarda no coração. O efeito de uma palavra em um, pode ser completamente o oposto em quem mora ao lado. Muito bom mesmo! M.S.

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Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.