Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Amor É Suicídio Maior

     Principalmente quando há uma valsa no lugar do coração. Daquelas prolongadas, de espalhar pelo salão inteiro, de secar a boca. Daquelas valsas em que a gente esquece da meia-noite, que duram, impregnadas do chão aos fios de cabelo dos que fraquejam, feito eu. Mas não me lastimo tanto, pois nem mesmo o sono escapa de ser roubado. E o dia se atrasa porque a resposta tem que ser dada, porque não existe sobra de amor, porque até as aves despertando querem tecer música acima da minha casa. Até a consciência fica um pouco de lado. A essência do ambiente não lembra como antes roupas velhas, paredes de pó e um vazio habitacional bem no centro do meu quarto. A essência agora lembra o espiral da sua língua subindo pelo meu pescoço. E só. Amor é suicídio-mor. Eis aqui a renúncia lírica de uma carta de alforria.

     É o documento oficial que os esquecidos, os da margem, os de espírito transcendente, os irrecuperáveis e os misteriosos assinaram. E eu, na condição de alvo, também assino. Não queremos mais a carta. Se existisse flecha, a ponta certamente seria venenosa. Eu, na condição de mulher do coração de voos rasantes, vou aprendendo a me render aos mergulhos num caminho sem volta e - sim, Senhor - sem fim. É também a pressão que vai sufocando meus pulmões em todos os sentidos. Começa na palma da sua mão, enquanto você insiste em decorar minhas curvas e meus defeitos de simetria espalhados por coxas, quadril e cintura, e termina no efeito psicológico de que somos escravos e de que não precisamos - de que nunca precisamos, na verdade - da liberdade, querer inventar histórias com mais doze pessoas ou cansar de uma saliva só que percorre o corpo. Termina no efeito que parece cobrar logo o nosso final, sempre mais rápido. Na sensação de que estamos com o dever cumprido pelo simples fato de perceber arder o coração. E, pela linha normal de ser humano, latejar o pensamento de que é tolice, que é efemeridade ou poesia demais para uma vida que é real, que é passível de explicações quânticas enquanto eu, aqui, não explico nem metade do que é paixão. Mas tenho certeza absoluta: morrer de amor existe. E o que choca mais é que talvez seja necessário. Mesmo que ninguém descubra.

     O meu único desejo profundo nesta noite, embora eu pareça segura (ou conformada), é de que a minha revelação te traga alguma agonia. Um lampejo, mas gigante, que estrague tudo. Que todos nos estraguemos por completo. Eu juro que cada palavra tem vontade de soar como um sino de enterro. Cada eu-te-amo, precisamente, é uma badalada. Do nosso próprio enterro. O caixão vai sendo comprado a prestação, vamos pagando com os arrepios na nuca. Os espelhos e eu podemos combinar a cor do vestido, branco, e a coroa de flores mortas na cabeça. Tão mortas quanto o rosto. Só não maiores que nós, no campo de visão da flecha. Pois amor é suicídio maior. E até a valsa desiste de ser progressiva, harmoniosa e complacente com os pares da dança. Vamos nos estragando todos, por amor. Virando a iminência de tocar o piano, mas tão fundo, tão mergulhado, tão pressionado e impregnado nos pulmões que só existe a morte. O incurável e magnífico ápice da vida.


Mariane Cardoso     

2 comentários:

  1. Mari. Estou em prantos aqui.. precisava falar contigo, enfim... tu me f az chorar sempre, obrigado. Obrigado. Um dia eu me encontro, juro. Um dia eu me perco do mundo e me acho em mim ;\
    fica bem. menina. saudades. obrigado, obrigado...


    Abraço grandão.


    Faz um favor? Escuta a música "Nunca", da banda mais bonita. acho que a música mais bonita que tenho escutado e chorado, enfim, é isto.
    Perdoe-me o desabafo, é que ando precisando mesmo.

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  2. Estou com a alma doendo, e talvez meu destino seja esse: calar a boca com almofadas.
    Preciso te dizer coisas... sei lá.
    obrigado mesmo.

    Você nunca vê que eu sou só um menino?
    (...)

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Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.