Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



'

sábado, 15 de setembro de 2012

O mundo é antigo demais

As certezas apodreceram.      
Você prefere acreditar em horizontes brancos. Em janelas peroladas, entre as ruas cor-de-rosa e vidros blindados. E está tudo em seu devido lugar, ou ao menos deveria estar.
Tudo tão incerto, meu bem.
O futuro, com suas rotas desenhadas à palma da mão, foi um mapa que esquecemos de guardar. Nossas digitais são queimadas à base de amor, de revolução, daquilo que um dia agarramos sem descansar até que a pele fosse desgastada sem volta.
Nossas verdades penduradas em rodas-gigantes, as luzes néon que de súbito clareiam ou escurecem nossas certezas.
Chegamos, finalmente, à sublimação. Tudo nos toca e nada nos envolve. Você prefere acreditar em acasos de sorte, unhas e olhos, portas de vidro. Oh, mon amour... O mundo é um velho cruel, mas não profano.
Quantas almas passaram por este lugar sem enganar ninguém? Elas preferiram acreditar que isto era a felicidade. Seus pés arrastavam-se pelo quarto, elas não tinham tudo o que queriam, mas tinham o suficiente. E elas nunca se perguntaram até que ponto o suficiente é suficiente.
Tudo tão incerto, meu bem.
Eu preciso confessar que transgredi qualquer pudor. Virei a atriz que você beija noite adentro, fingindo ser dona de si, mentindo ao proferir palavras, idealizar gestos, fragmentar expressões. Não sei até que parte de mim eu cheguei.
Mas você prefere acreditar em poemas infinitos.
Então, de que me serviriam os versos "trapaceia o próprio script/dramaturga de uma figa"?
É como eu prefiro acreditar: Você tem que dizer que fica. Se você for embora, é só mais um castigo. Se ficar, vai poder dizer que já sabia.
Tudo começa a ficar bonito.
Intérpretes às escondidas.
Mas, meu bem, entre os edifícios onde as almas dormem, existem mais silêncios que nos mares do Oriente. 
Nossas dúvidas são sopradas dentro do tempo.
Os muros permanecem mudos.
Os sóis permanecem sós.
E os amores, meu bem... Os amores permanecem atores.
Tudo tão incerto.

Mariane Cardoso

4 comentários:

  1. Tênue, é a palavra que sinto ao lê-la neste texto. Muito belo, bela também a nova imagem de seu blog, o pássaro escorre e na personagem uma alma que parece ser lida.

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  2. Mariane, confesso que toda vez que leio algo teu eu morro um pouco. Eu choro e as vezes quando estou andando pela rua eu penso em você, na sua doçura e no seu jeito de me emocionar com cada palavra tua. É a segunda vez que leio esse texto e é a segunda vez que estou chorando. Estou, nesse momento, com os ''Olhos Marianejados''. Eu te sinto.

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  3. Eu falei uma vez para você que gostaria de agradecer. Não lembro bem o que disse. Só agradecer por você escrever. Você é minha companhia nas madrugadas. Sentir seus textos é uma das melhores coisas que já senti. Às vezes suas mãos tocam as minhas. A chuva que chove em ti, chove em mim. A luz que escapa e só você sente... Dói? Às vezes penso que dói. Um furo em sua pele, dele sai seus sentimentos, você os transforma em palavras, fotos... Expressões. Eu gosto de saber que você existe, e pensar que um dia vou ter um livro seu.
    Ah, fiquei feliz quando ao ouvir sua playlist, encontrei Mélanie.
    Mariane, zalu, pedaço de caminho, descaminho... boa noite.
    se cuide
    descuide
    (maria)

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  4. O pior é que as palavras não cabem nas suas palavras. E cada dia mais sinto que tenho que te dar um abraço bem apertado, para que os suspiros falem por si só; assim como nossas dores colocadas na junção das paredes de nossos quartos. Obrigado, obrigado.

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Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.