Como dizer, assim, clara e objetivamente, sem modificar a tênue existência de tudo? Num ponto exato sob as constelações, onde eu aqui estou, onde tu aí estás, pergunto-me se há algum modo de fazer entender exatamente aquilo que se é. Se um dia poderei falar sobre a tua liberdade, sobre o meu sono inquieto ou sobre maçanetas, máquinas e relógios inteiramente concretos, como você sabe (ou eu espero que saiba), deixando de lado nossas cicatrizes, sem levantar falso testemunho. Ou se vivemos na mentira, deslizando pela superfície dos móveis, levitando sem nunca chegar ao azul do céu.
"Falarás tudo o que tiveres de falar, sem machucar, sem ferir. Sem atingir nem ocultar. Sem ignorar nem interromper". Alguém escreveu que as palavras nos traem e que nós as traímos. É a vida, de tempos em tempos, contida.
O meu nome vai se desintegrando, diluindo enquanto erro sobre tudo o que vejo, tudo o que sinto, tudo o que narro. Eu sou inocente. Mas o pêndulo que me leva e traz para o delicado insight do mundo jamais descansou. São as luzes que piscam toda a noite. E os soluços que retornam um a um.
Mariane Cardoso
Você escreve tão bem que me arrepia.
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