Estar de portas e persianas fechadas não diz nada. Minhas costas doem e ninguém pode dizer que são diferentes as dores nos filmes de velho oeste, pois a casa tem o mesmo deserto. A rua e a lama e o teto que me impede de sentir as nuvens. Nem sempre se pode dormir rapidamente. No final da noite, o veneno corrói enquanto a gente deixa a agilidade do dia cair em gotas no chão do quarto. Dos dias conturbados, cheios, risos-mensagens-de-amor-até-dez-horas-da-noite-informação. Até onde saturar e mais um pouco. Ser, sem pausas, alguém que funciona. E funcionar me dá medo. Funcionar me dá agonia, ombros caídos. A obrigação de funcionar da qual todos amargam e jamais se livrarão é a insônia das minhas cinco horas de sono. Das nossas vinte e quatro horas de esconderijos.
E é por isso que o grito não sai, mesmo que a criança, o sábio e a paz que existem em nós queiram sair todos de uma vez. Nossos portais petrificaram. Nossas escadas dão em calabouços que ficaram mais frios com o tempo, cada vez mais profundos e obscuros. Quantas luas deixamos passar? Aliás, quantas fomos capazes de deixar passar?
Umas páginas já foram rasgadas antes de chegar às nossas mãos. Outros escudos foram projetados a partir das nossas cismas, mas deles nenhum de nós teve notícias. Existiram vezes em que as esquinas separaram almas gêmeas. Em quanto tempo vamos poder parar? Daqui a quantos quarteirões? Anoitecer também é cobrir de trevas. E ousar ainda não foi possível pra ninguém.
Mariane Cardoso
Ah, li todos dessa primeira página, para me atualizar. O que mais me deixou imersa foi "Do tempo que eu era morta". Menina, me pergunto o que te assola, mas resolvo apenas observar de longe... Para não me intrometer. É tudo tão lindo, mas acho que sou repetitiva. Mas é que sempre gosto de tudo que você posta aqui, moça. Um cafuné! x)
ResponderExcluirMais um dos teus textos que me deixa perplexa, sem saber ao certo o que dizer. Lindo, bem feito, bem colocado. Bem sentido.
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