Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



'

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mister,

    Eu preciso dizer que a claridade dessa casa me incomoda. Tenho procurado novas músicas como uma solitária com Sede maiúscula, ou qualquer ocupação que me faça aproveitar o tempo, mas nada é o bastante. Às vezes durmo no meio da tarde e você sabe que eu nunca fui disso. Mas é para deglutir o que eu necessito preencher. Nenhum dos lugares em que deito me dá vista para as nuvens. É tudo artificial. Aqui é... grande demais. Eu me sinto seca. Sem brilho. Destronada. Eu sei, eu sei - sempre fui isso. Mas agora é diferente. Parece que as pessoas estão notando isso em mim, entende? Estão me descobrindo pelas partes mais apodrecidas. Me interpretando só de olhar. Eu sinto quando elas me encaram, elas vão acertar dessa vez. Teve um que veio aqui na minha casa e disse brincando que eu não conversava como antes. Falei para outro que eu pensava ter uma mente estranha, porque às vezes eu me pegava roubando certas vidas, certos detalhes de vida, e ele disse que não, que isso era normal. Competitividade-alternativa-de-todos-nós: acho que ele entendeu errado, eu só queria dizer que escapo por portas que não são minhas. A velha mania de sonhar você. Outra disse que alguns agiam como animais. Não foi para mim isso, mas me tocou. Esses dias estou vazia. E com um nó interno.

     Eu sinto falta de soletrar histórias para você debaixo da luz do sol. Sinto falta das suas promessas que não me davam esperanças. Eu gostava porque nunca precisei cobrar. E porque eu podia estar constantemente encurralada, essa era minha calma. Nem que eu tivesse um lugar com vista para as nuvens ficaria calma agora. As nuvens estão em guerra comigo. Sem desenhos até que eu pare com a mania besta de colocar você em todos os segundos inocupáveis. Eu tenho que absorver você de alguma maneira. Eu tenho pavor das pessoas que falam essas coisas insinuando sempre dentro da minha cabeça as piores verdades. Quando a mente fica livre, esses pensamentos me atordoam até eu dormir no clarão. Eu queria poder hipnotizar, conservar, injetar e sonhar, sonhar você. Mas estou apenas na angústia. Juro que eu estou tentando. Eu estou tentando.

Mariane Cardoso

4 comentários:

  1. Eu te sigo no tumblr, e tal, mas ele está temporariamente desativado. Queria saber se posso pegar seus textos aqui, e postar no tumblr, com od devidos créditos, é claro. Posso? agradeço se responder na minha ask do tumblr.
    beatricemuller.tumblr.com
    Obrigadinha!, bjks!

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  2. Eu te conservo, injeto e sonho você todos os dias. Sem angústia, só esperança.

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  3. Ma,eu me sinto assim.Acho que é por isso que eu senti um arrepio quando o ultimo ponto final do texto chegou."Não foi para mim isso, mas me tocou." e me...assustou.

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  4. Linda, a cada dia me surpreendo com os seus textos... Me dá uma felicidade incrível ao lê-los. Acho que você não vai lembrar, mas sou a Paloma(ardilosa) antiga (preteritos). Um beijo, Maris.

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Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.