Nenhum outro vai saber dos sons que se formam e
o porquê de você sorrir com a mesma palavra que
faz o outro chorar. A gente vive pra ser secreta,
transposição e transbordamento, além da risca de
giz no nosso próprio telhado que goteja e inunda o
quarto trancado. E tudo isso vai morrer em segredo.


Une cruel incompréhension...



'

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Meu amor,

      Perigo é uma coisa que descumpre. Perigo é ter dezessete, dezoito anos. E amar.
     Quando eu fabricava a chuva só pra nós dois, quando eu crescia no seu beijo, quando eu cantava no seu rosto em uma tarde quente e melodramática, não sabia que era tarde demais. E talvez eu não tivesse me arriscado tanto se soubesse. O sono insiste em ficar quando você pega minhas mãos entre as suas e solta cinco beijos delicados, leves, esvoaçantes. O resto do mundo fica calado sempre que você desenha flores com a ponta dos dedos na minha barriga, mas você se adianta em me dar um sorriso preguiçoso quando ainda o sol nasce, querendo me encontrar além da velocidade da luz. Querendo me encontrar antes de qualquer outra promessa ou falta. Me encontrar depois do futuro. Me encontrar depois das enchentes e das secas, dos gritos que atravessam ruas e paredes, dos arco-íris nada nossos, das frases perdidas pelos esquecidos e pelos acasos. Me encontrar depois dos fatos. Era a nossa hora de partir para a vida e você sabia. Era a nossa hora de se desencontrar, correr, buscar as estradas onde só é possível ver horizontes e horizontes, preencher os bolsos de moedas, partir para ser brisa ou alar os caminhos, alar você e você sabia. Você podia ser muito mais livre e desajustado e extravagante. Eu podia. Mas a gente gasta o tempo precioso de uma vida pós-encontro correndo um perigo que a gente sabe. É nessa parte que você beija meu pescoço até marcar, até mostrar nitidamente que eu posso, que eu aguento, que nenhum outro par será como o nosso par e que somos consistentes. Eu quero que você leve minha marca através dos túneis e das nuvens. A letra do seu nome fica no meu nome. Você é o cobre, eu sou o cobre, tarde demais para filtrar. Não às datas e às esquinas e aos outros recursos para sermos distraídos, porque eu sou sem recursos e esse sim é o nosso grande amor. Eu sou sua como nenhuma outra poesia é.

Mariane Cardoso

4 comentários:

  1. Perfeito linda *-* Continue assim viu?
    [aaa] estou seguindo se gostar do meu segue de volta *-*

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  2. maravilhoso, mil parabéns por sentir dessa maneira e conseguir transmitir com tamanho encanto

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Alguma luz
vai escapando
e só eu
sinto.

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18. Menos artista, mais idosa. O prefácio, o retórico, o histórico, o profético, o pró, o fétido, o esplendor e tudo mais o que cabe no poético.